A discussão sobre identidade ainda é muito limitada no país e, muitas vezes, pessoas negras de pele clara acabam sendo afastadas de seus verdadeiros traços culturais e ancestralidade. Isso pode ser visto esta semana em rede nacional, durante o programa Big Brother Brasil, onde a participante Paula afirmou só ter descoberto ser uma mulher preta, após conversar com outros colegas de confinamento. Essa pauta é levantada do trabalho da cantora e compositora Liza Lou, que enfrentou todo um processo e hoje vem se reconhecendo e se libertando da cultura no embranquecimento.

https://youtu.be/8gmgmR5u2T4

Recentemente, Liza lançou o single “África Brasil”, que fala exatamente sobre esse empoderamento e liberdade para inspirar outras mulheres a olharem para seus traços e histórias. “Isso é muito importante. É sobre isso que eu tento falar em África Brasil. Quando eu falo que toda menina preta tem o direito de conhecer essa história, olha o quão dentro de uma cultura de embranquecimento, essa mulher foi posta. Olha quantos acessos negados em relação a história dela ela teve. É uma busca, é um resgate ancestral e histórico, quando a gente para, olha e entende quem nós somos e da onde a gente veio”, declara.

Capa do single “Africa Brasil

A cantora conta que, assim como Paula, ela passou por essa mesma situação. “Alguns anos eu venho me questionando sobre quem eu sou, sobre pensar: ‘caramba, eu sou uma mina preta de mais para ser branca, branca demais para ser preta’. Eu vivi coisas que uma mulher branca não vive, sabe? mas ao mesmo tempo também não vivo coisas que as mulheres pretas vivem. Então, qual é meu lugar de vivência? Qual é meu lugar de fala nisso tudo?”, diz.

Liza declara que quer, cada vez mais, usar sua arte para transmitir toda sua experiência e para abrir espaços para esta causa que precisa ser conversada. “Quando eu falo que todo passo em direção à sua história, seja um passo de libertação das dores da miscigenação. O que são essas dores da miscigenação? Porque as mulheres pretas foram brutalmente agredidas… E tem outro lugar também dessa dor de miscigenação, que é a dor de não saber quem a gente é, a dor de não reconhecer a nossa história, de não reconhecer a nossa identidade. Essa é a dor”, declara.

“O Brasil foi formado por mãos pretas. O Brasil tem origem preta. ÁFRICA BRASIL. Eu recebi mensagens de pessoas falando: ‘Liza, eu me identifico com essa música’, e outras perguntando: ‘Liza, você acha que tu sofre as mesmas coisas que uma mulher preta retinta?”. Óbvio que não, eu tenho certeza que não. E quando eu lancei esse som não foi no intuito de competir dores ou igualar elas. Foi no intuito de abrir espaço para esse reconhecimento racial. Foi no intuito de reconhecer a África como MÃE, A ORIGEM. Eu tô, assim, muito feliz que o bbb tá trazendo essas reflexões pra gente”, finaliza.