Apesar de vivenciar ataques nas redes sociais e denúncias de posts, a cantora e compositora mineira Ally Dyla vem recebendo também feedback positivo a cada novo lançamento nas plataformas digitais. Ela estreou recentemente “Leoa da Madrugada”, faixa que já se encontra disponível nos aplicativos de música e está alcançando um grande público.
Mantendo sua missão de acrescentar ao cenário músical com lançamentos que transcedem o mero entretenimento e abordam temáticas necessárias, Ally trouxe o novo single carregado de representatividade lésbica, empoderamento e reforçando o prazer feminino.
Com uma sonoridade pop, o single é uma música autoral que busca exaltar a mulher fugindo da objetificação comum. Ally escancara no novo trabalho, como o prazer feminino está ligado única e exclusivamente à mulher. Dessa forma, traz uma narrativa de um encontro sexual entre duas pessoas do sexo feminino, em que elas não performam um ato sexual hétero padrão, quebrando os estereótipos de “passivo e ativo”.
Para entender um pouco mais sobre o lançamento, confira uma entrevista exclusiva com a artista, que revela sobre o processo de composição, feedback, carreira e próximos passos. Leia agora:
Como vem sendo o feedback de Leoa da Madrugada?
Honestamente, melhor que o esperado, recebemos até hate rsrsrs. Então, brincadeiras à parte, estou muito feliz com a repercussão de Leoa da Madrugada, principalmente por estar atraindo o público esperado, mulheres que se atraem por mulheres. Todas que ouviram e me enviaram mensagens gostaram muito e inclusive estão passando a mensagem para frente. Recebi fotos das minhas leoas com suas companheiras e isso me deixou extremamente feliz e realizada.
Como foi seu processo de composição desse single?
“Leoa da Madrugada” eu brinco que foi um presente, porque ela veio muito fácil. Eu sentei em frente ao piano e toquei o primeiro acorde, então a melodia veio… “é, por essa noite eu vou mostrar…”. Eu tinha a intenção de tentar escrever sobre algo que nunca tinha escrito antes, então falando de tema eu realmente tive a intenção de escrever sobre sexo entre duas mulheres, buscando trazer algo que mulheres como eu pudessem se indentificar. Uma coisa que sempre me deixou chateada é a falta de representação que temos, fora que quando algo é criado com essa temática, sempre é colocado de uma maneira muito irreal, então não causa identificação. Enfim, mas a parte que mais foi fácil de escrever foi o refrão, eu literalmente parei de tocar no piano e comecei a bater palmas, no estilo meio que carimbó e simplesmente as palavras saíram da minha boca, é como se eu nem precisasse ter pensado, elas só surgiram, eu deixei a música vir da maneira que ela precisava que fosse.
Você enfrentou alguns problemas nas redes sociais após o lançamento com risco de ter sua conta derrubada. Conta um pouco sobre isso?
Bom, Leoa da Madrugada fala sobre liberdade sexual feminina, principalmente de mulheres que se relacionam com mulheres, então tentei trazer isso em todo o desenvolvimento artístico do trabalho, seja nos ensaios, seja nos vídeos e pelo visto não agradou muito. Alguns vídeos e fotos que usei no processo de divulgação tiveram que ser excluídos, depois de algumas prováveis denúncias e obviamente eu não podia correr o risco de perder todo o trabalho que já tinha feito. Em certo ponto eu já esperava algo do tipo, a maioria dos meus vídeos de Leoa da Madrugada receberam comentários bem escrotos e pejorativos, principalmente de homens. Então não foi surpresa um bando de homens com a masculinidade frágil terem se sentido ofendidos quando eu aleguei que o prazer feminino foi deixado de lado por praticamente toda a história da humanidade e que o corpo feminino sofre objetificação desde sempre. Isso só deixa mais claro para mim que não posso e não devo desistir da arte e do caminho que escolhi. Com certeza tem uma galera ai fora gigante que também concorda com isso e quando nossos caminhos se cruzarem o “estrago” que vamos fazer vai ser bem grande.
Como é para ti, trazer essa visibilidade lésbica na música?
Eu particularmente tenho muito orgulho de ser como sou e sempre fiquei muito brava, porque aqui no Brasil nunca tive uma grande referência na música que fosse lésbica e tivesse orgulho disso sabe? De levantar bandeira e de fazer músicas que trazem essa identificação e esse sentimento de se orgulhar de ser o que é. Então, para mim é realizar um sonho e tenho certeza que tem muitas mulheres por aí, assim como eu, que buscam por alguém para se espelhar ou usar de referência. E outra coisa, o sexo entre mulheres é extremamente estigmatizado, eu queria quebrar isso, queria mostrar que sexo entre duas mulheres não se baseia nos pradões heteronormativos como as pessoas “curiosas” pensam e nem tampouco como é vendido no “mercado adulto”. Além disso, queria empoderar o prazer feminino, porque o tempo inteiro o sexo é vendido como se fosse algo muito mais para os homens e como se o homem fosse indispensável para o prazer feminino. Essa música mostra que sexo é sobre prazer e não sobre alguma prática específica e tentei mostrar que as mulheres se entendem muito bem quando o assunto é se dar prazer.
O que o público tem falado sobre sua carreira musical?
Tenho recebido feedbacks muito positivos, a maioria demonstra surpresa e de uma maneira positiva com tudo que estão vendo e ouvindo. O trabalho está extremamente profissional e bem desenvolvido de todas as formas e tenho sentido que o público também tem percebido isso. Cada vez mais têm surgido pessoas que estão se identificando com o trabalho e com a mensagem.
Como estão os próximos planos e projetos?
Estão a todo vapor. Estou terminando de preparar o material de divulgação do meu novo single “Mulher de Verdade” que será lançado no dia 15 de Maio. Chegaremos com tudo dando continuidade a esse projeto lindo de até então 5 músicas. Mulher de Verdade vem como um manifesto, é o que tenho a dizer por hora.